quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Texto de aprofundamento 8

O texto abaixo são vários depoimentos interessantes de mulheres que se dizem homossexuais.



Depoimentos de mulheres homossexuais
Denise Adams/ÉPOCA

“Quando tinha seis anos, gostava de me deitar com uma amiguinha só para sentir o cheiro do cabelo dela. Namorei homens, tive filho e pode ser que um dia volte a namorar rapazes. No momento estou desencantada. Não acho que eles sejam confiáveis.Quando resolvi namorar uma mulher, fui direto para as páginas de anúncio da Internet. Foi a primeira escolha. Cheguei a conhecer uma menina que não queria um relacionamento, pois ela já tinha namorado. O curioso é que muitos homens retornaram meu anúncio. Eles não se conformam, acham que é falta de uma figura masculina. Estava preocupada comigo mesma porque perdi completamente o interesse sexual até encontrar uma mulher que me fez tremer toda. Relação com mulher é mais completa. Ela é mais companheira, amiga, amante. Ri com você, chora com você. A mulher se permite experimentar mais. Essa coisa de separar amor e sexo, que os homens sempre souberam fazer, é uma descoberta recente para mulheres como eu. No final das contas, eu não quero que me julguem. Sou missionária de minhas idéias e se no meio do caminho descubro que aquilo não me interessa mais, mudo meu percurso sem a menor culpa.”

Raíssa do Amaral, de 22 anos, secretária

Denise Adams/ÉPOCA


“Não escolhi ser homossexual. Sempre tive uma atração por mulheres, mas não sabia do que se tratava. Pensava comigo mesma que não poderia gostar de meninas. Foi um baque quando me apaixonei por uma mulher, há quatro anos. Entrei em depressão profunda. Antes tive a fase do bissexualismo, quando os meninos só queriam saber de ficar. Hoje em dia é até cool, moderno, dizer que é bi. As meninas se acham modernas, abertas. Não gosto de me relacionar com elas, pois não posso competir com os homens nesse campo. Até já fui trocada por um. Guardo experiências sexuais maravilhosas com eles, já os amei até. Nunca tive medo de perder emprego por causa da minha decisão, mas perdi amigos quando me assumi. Sabia que meus pais iriam me aceitar, mas eu tinha medo de fazê-los sofrer porque eles são de outra geração. Quando contei para eles, rolou a famosa cena do choro, mas as lágrimas caíram do meu rosto, não dos deles. Tenho uma namorada de um ano e meio e a gente se acaricia em público, sim. Confesso que nem percebo a reação das pessoas. Não é para provocar ninguém. Agimos como se fôssemos uma hetero. Mas se mexerem comigo, eu revido. Sou uma ótima cidadã, mas viro um bicho quando me desrespeitam. Não vou dizer que nunca mais ficarei com homem, até porque nunca me imaginei homossexual. Há preconceito, claro, mas a tendência é diminuir. A sociedade precisa de alguém para crucificar.”

Carolina “BobbiFranchon, de 22 anos, estudante

Denise Adams/ÉPOCA

“Namoro desde os 16 anos, meninos e meninas. Tive uns poucos namorados, queria experimentar os homens e ter certeza do que eu queria. Tive vários problemas familiares. Sou filha única, tive educação severa, fui criada pelos avós. Eu precisava disfarçar o tempo inteiro. Inventava, mentia, arrumava um amigo para o jantar da firma. Minha tia me ajudou a reconquistar meus pais. Hoje, acho que vale mais a pena ser verdadeira e correr riscos. As coisas estão bem diferentes. Dia desses dei um beijo de língua na minha namorada numa lanchonete de um bairro de mauricinhos de São Paulo. Um grupo parou de comer e, chocados, vieram nos perguntar se éramos artistas. Os homens têm fetiche por duas mulheres, mas muita gente ainda quer saber quem é o homem ou a mulher na relação, como se isso acontecesse com todas as lésbicas. Mas eu e uma outra namorada já fomos agredidas por um homem. Fomos à delegacia e abrimos um processo. Ele nos agrediu fisica e moralmente. Acho que por isso as lésbicas não se expõem tanto. Somos fisicamente mais frágeis numa briga. Mais: não é porque duas mulheres estão juntas que elas não pensam em ter filhos. Eu penso em ter. Inseminação é muito cara e eu prefiro ter filho naturalmente, com o acordo de minha namorada. A homossexualidade é só um pedaço da minha vida. Ninguém precisa se preocupar com esse único aspecto da minha vida.”

Ana Paula de Oliveira, ex-modelo e pequena empresária, de 27 anos

Denise Adams/ÉPOCA



"Assumir o meu desejo por outras mulheres não foi tarefa fácil. A educação nordestina é muito centrada nos valores familiares tradicionais. Mantinha minha opção sexual em segredo preocupada com a opinião dos meus pais e da vizinhança. Só aos 26 anos consegui ir a uma festa GLS. Percebi, então, que não era nenhum bicho de sete cabeças. Descobri que havia garotas como eu, e não apenas mulheres masculinizadas. Logo depois comecei a namorar uma menina e decidi abrir o jogo em casa. Minha mãe deu o maior apoio, mas meu pai até hoje prefere fingir que não sabe de nada. Às vezes ele fica falando barbaridades sobre gays e lésbicas na minha frente, critica mesmo. Mas não ligo mais, não. Assumir minha homossexualidade foi tirar um peso das costas. Deixei de ser introvertida e ter medo de paquerar uma mulher. Acho muito legal ver que de uns cinco anos para cá as garotas estão se liberando com mais naturalidade. Mas ainda existem, principalmente aqui no Recife, aquelas que mantém um namoradinho de fachada. Minha atual namorada, por exemplo, sempre teve desejos lésbicos mas mantinha-se hétero. Ela está decidindo como contar para a mãe sobre nosso relacionamento. Dou uma força pois sei como é difícil dar esse passo."

Ita Catrina, de 33 anos, auxiliar administrativa

“Namoro mulheres há três anos. Antes tive um relacionamento de três anos com um menino, por isso a decepção de minha mãe quando contei para ela a novidade. Foi um susto para eles. Bem, não carrego culpa cristã nenhuma, pois sou atéia. Sempre namorei homens e o sexo era maravilhoso, mas percebi que admirava mais as mulheres. É um lance de pele. Quando encosto numa menina, pega fogo. Com menino, demorava mais. Nunca transitei como bissexual, mas não posso dizer que a decisão é definitiva, porque não tenho aversão a homens. No trabalho e na faculdade contei que era lésbica e em vez de me descriminarem, fizeram rodas para fazer perguntas. Curiosadidade. Dou beijo na boca de minha namorada onde quer que vá, menos na frente de crianças. O olhar das pessoas é meramente curioso. As pessoas olham porque nunca viram aquilo. Se isso virar cotidiano, as pessoas não vão se incomodar mais. Particularmente, não sou de frequentar ambiente gay. Não vejo necessidade de me juntar para lutar por isso. Acho que a atitude política começa em casa, com os seus. Eu passei a vida inteira achando que sapatão fosse aquela mulher que dá porrada na outra nos botecos e gay é aquele cara que vê barata e sai correndo. Se mais pessoas se assumissem, a sociedade iria ver que as coisas não são bem assim. Ser homossexual não é defeito, nem qualidade, não acrescenta, nem diminui. É só uma característica, como tre olhos azuis ou cabelos crespos.”

Rafaela Pires, de 22 anos, comissária de bordo

“Meus pais sabem, meus amigos sabem, meus colegas de colégio sabem. Nunca senti preconceito ou um olhar torto, e acho que estou sendo beneficiada por uma série de mudanças. O fim daquele estereótipo da lésbica masculinizada ajudou muito, é como se a coisa ficasse menos agressiva. As pessoas percebem que uma mulher pode ser lésbica sem perder a feminilidade. Há avanços jurídicos também, como algumas decisões favorecendo homens que passam a receber pensão quando o companheiro morre. Tudo isso ajuda a construir, aos poucos, uma sociedade mais tolerante. É claro que no ambiente doméstico é mais complicado. Meus pais se assustaram quando eu contei. Acho que toda a família tem o sonho de ver a menina casar e ter filhos. Mas com o tempo eles perceberam que eu estava feliz. E o fato de eles aceitarem me deixa mais feliz ainda. É muito melhor viver assim do que esconder, viver se atormentando. Acho que aquela sensação de culpa que atormentava mulheres de outras gerações está acabando.”

Daniele Duarte, carioca, 21 anos, estudante de 2º grau

“Uma menina que vive hoje a situação que eu vivi quando tinha 15 anos certamente terá um peso muito menor nas costas. Descobri que era lésbica quando me apaixonei por uma colega de escola. Já tinha namorado alguns garotos, mas não gostava muito. Quando decidi falar sobre isso em casa, meu pai teve uma reação ótima. Mas minha mãe ficou chocada e me botou para fora. Fui vender títulos de capitalização para me sustentar. Desde então, nunca mais fiquei com homens. Não tenho vontade, mas isso não significa que não possa voltar a fazê-lo um dia. Hoje minha mãe já aceita minha opção, conheceu até minhas namoradas. Acho que o preconceito está diminuindo muito. As pessoas são bombardeadas por esse assunto na mídia, vêem notícias de paradas gays reunindo 500 mil pessoas em São Paulo, assistem a programa de televisão que tratam do tema com naturalidade. Todo mundo conhece alguém ou tem alguém na família que é homossexual. Contar para a família sempre foi o grande tabu. Tenho certeza que as mães de hoje conseguem lidar com isso de uma maneira muito melhor do que a minha.”

Rosane Amaral, de 33 anos, promotora de festas



Fontes:
http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT369166-1655-1,00.html

http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT369166-1655-2,00.html

Acessado em 14/10, às 22h40.

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